Desigualdade Das Riquezas
A desigualdade das riquezas é um desses problemas que se procura resolver em vão, desde que se considere apenas a vida atual.
A
principal questão que se apresenta é esta:
-
Porque todos os homens não são igualmente ricos?
Eles
não o são por um razão muito simples:
- Porque não são igualmente inteligentes,
ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes para conservar.
Está matematicamente demonstrado que, se a riqueza fosse igualmente repartida, daria a cada qual um parte mínima e insuficiente;
supondo-se que essa divisão fosse feita, o equilíbrio seria rompido em pouco tempo, pelas diferenças de qualidade e de aptidões de cada um; que se isso fosse possível e durável, cada um tendo somente o necessário para viver, resultaria na destruição de todos os grandes trabalhos que contribuem para o progresso e bem-estar da Humanidade;
Que, ao supor que ela daria a cada um o necessário, não haveria mais o estímulo que impulsiona o homem às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis.
Se Deus a concentra em certos pontos, é para que dali ela se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades.
Admitindo-se isto, pergunta-se:
- Porque Deus a dá a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos?
É novamente uma prova da sabedoria e da bondade de Deus.
Dando ao homem o livre-arbítrio, quis que ele chegasse, por sua própria ação, a estabelecer a diferença entre o bem e o mal, de tal forma que a prática do bem fosse o resultado de seus esforços, e de própria vontade.
O homem não deve ser conduzido fatalmente nem ao bem, nem ao mal, porque seria apenas um ser passivo e irresponsável, como os animais.
A riqueza é um meio de colocá-lo à prova moralmente; mas como ela é, ao mesmo tempo, um poderoso meio de ação para o progresso, Deus não quer que ela fique por muito tempo improdutiva, e eis porque a transfere incessantemente.
Cada qual deve possuí-la para aprender a utilizá-la, e demonstrar que uso dela saberá fazer.
Mas, há uma impossibilidade material de que todos a possuam ao mesmo tempo. Se todas as pessoas a possuíssem, ninguém trabalharia, e o melhoramento da Terra sofreria com isso.
Essa é a razão de cada um a possuir por sua vez. Desta maneira aquele que hoje não a tem, já teve ou a terá em uma outra existência, e outro que a tem agora poderá não ter mais amanhã.
Há ricos e pobres, porque Deus, sendo justo como é, determina a cada um trabalhar por sua vez.
A pobreza é para uns a prova de paciência e resignação; a riqueza é para outros, a prova de caridade e abnegação.
Lamenta-se, com razão, o péssimo uso que algumas pessoas fazem de suas riquezas, as vergonhosas paixões que a cobiça desperta, e pergunta-se:
- Deus é justo ao dar a riqueza a tais pessoas? É claro que, se o homem tivesse apenas uma existência, nada justificaria tal repartição dos bens da Terra; entretanto, se ao invés de limitar sua visão à vida presente, considerar o conjunto das existências, vê que tudo se equilibra com justiça.
Assim, o pobre não tem motivos para acusar a Providencia, nem de invejar os ricos, e nem estes tem motivos para vangloriar-se do que se possuem.
Se abusam da riqueza, não será nem com decretos, nem com leis que limitem o supérfluo e o luxo, que se poderá remediar o mal.
As leis podem momentaneamente modificar o exterior, mas não o coração; eis porque essa lei tem apenas uma duração temporária, e são sempre seguidas de uma reação desenfreada.
A origem do mal está no egoísmo e no orgulho; os abusos de toda espécie cessarão por si mesmos, quando os homens deixarem-se reger pela lei da Caridade. (Capítulo 16, item 8 do Evangelho Segundo O Espiritismo – Allan Kardec)
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